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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Redes sociais: qual o limite entre o público e o privado?

As relações interpessoais configuram uma das principais necessidades humanas. Pertencer e ser aceito em um grupo é questão de sobrevivência desde nossa época das cavernas. E por falar nisso, seriam as redes sociais uma espécie de "mito da caverna moderno"? Qualquer semelhança (e alienação) não é mera coincidência. 

Observamos há algum tempo através da mídia shows de realidade(?) nos moldes de zoológico humano. Parece que acompanhar a vida alheia exerce certo fascínio e curiosidade e, da mesma forma, a exposição em redes sociais também segue tal premissa com uma boa dose de exibicionismo e voyerismo. A pergunta que não quer calar: por que em tais redes as pessoas partilham aspectos tão íntimos e pessoais da própria vida de forma tão comprometedora? Será que a banalização da vida alheia em tais "shows de irrealidade" nas mídias se incorporou à sociedade, fazendo-nos desvalorizar e tornar impessoal coisas tão pessoais e íntimas? Parece que as pessoas querem fazer uma espécie de big brother de suas próprias vidas. E com uma bela floreada...

Pesquisas recentes apontam que as redes sociais causam depressão. Não é difícil imaginar porque isso ocorre. A impressão que fica é que se vende um personagem criado para interagir virtualmente, projetando uma versão a qual é aceita: "a melhor versão de si mesmo". Na realidade virtual das redes sociais existe uma estética maravilhosa, tudo é belo, todo mundo é bonito, mega legal, as fotos são escolhidas a dedo: estar com a galera, festas, baladas, viagens, família margarina, ostentação de aquisições materiais, tudo de acordo com o que é ditado socialmente. Talvez, mais importante do que as pessoas digam, seja o que querem dizer... Penso ser necessária a reflexão sobre tal dinâmica de funcionamento de forma mais intrínseca.
  
Possivelmente a necessidade humana de pertencimento, aceitação e amparo fundamente a exposição exacerbada a qual testemunhamos tão displicentemente nas redes sociais. O homem possui uma condição fundamental de desamparo existencial e traz consigo a consciência da insignificância da própria existência, direcionando-se na tentativa desesperada de dar sentido para uma realidade sem sentido, em busca de enquadramento e acomodação ao caos dos padrões vigentes e às regras e demandas estabelecidas socialmente. A noção do absurdo da vida clama pela necessidade imperativa de exposição, a qual se expressa nas entrelinhas afirmando que pertencemos a uma realidade aceita e aclamada. Precisamos ser aprovados, admirados e "curtidos". Porém, será que quem realmente importa está "se curtindo"? Parece que as pessoas estão o tempo todo tentando convencer e se justificar, seja através da demonstração de amor, conquistas, desafetos, desabafos, alegrias e tristezas, as quais, muitas vezes, culminam em uma exposição desnecessária e constrangedora. A dificuldade do homem em lidar com a própria solidão parece se expressar no mundo virtual e, principalmente, nas redes sociais, onde as pessoas partilham detalhes da própria vida como busca de companhia e cumplicidade. Não tem ninguém ao seu lado para te ouvir naquele momento, mas centenas de amigos que podem ver o que você expor. Desenvolvemos certa familiaridade e dependência do mundo virtual, principalmente as gerações mais jovens. Entretanto, urge a consciência de que não estamos na sala de estar de casa, e sim, em um ambiente que pode ser vulnerável. O anseio em ser aceito e acolhido não deve e não pode justificar atitudes inconsequentes. Somos responsáveis pela maneira como nos projetamos na realidade da vida e na fábula das redes sociais.


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