Podemos
compreender responsabilidade como uma das questões centrais que
atravessam a existência humana. Ao longo da vida fazemos inúmeras
escolhas, enveredamos por distintos caminhos os quais cada um define em sua
jornada pessoal. Contudo, toda escolha demanda a consciência da
responsabilidade que esta abarca. Somos responsáveis pelas opções que fazemos e
suas consequências, em uma inexorável relação de causa e efeito. Por
conseguinte, tal noção de responsabilidade nos imputa determinada angústia,
pois compreendemos que as consequências resultantes de nossa escolha é de nossa
inteira responsabilidade, e , desta forma, inalienável. No entanto, é através
da mesma consciência de responsabilização que permite o próprio viés da
mudança, a capacidade de fazer novas e diferentes escolhas, ter outras
concepções, ir por outros caminhos. Só depende de nós. Afinal, se somos
responsáveis pelo modo como nos colocamos no mundo e na maneira como agimos,
também possuímos a mesma capacidade de mudar. Um novo fazer, um outro
jeito de ser, novas escolhas, outras possibilidades. Sim, somos os responsáveis
por nossa própria vida.
A culpa surge da mesma noção de causa e efeito que permeia
a responsabilidade, entretanto, possui um viés disfuncional, e, muitas vezes,
patológico, não permitindo-nos a superação necessária. Quando nos sentimos
culpados por algo, acabamos por arrastar pesadas correntes, as quais nos
paralisam. Concomitante ao sentimento de culpa, desenvolvemos uma forma de
atuar no mundo que nos traz prejuízos, deixando-nos prisioneiros do remorso e
da fixação de que somos culpados. Mas seria tudo tão determinístico assim?
Através do tempo e do
espaço absorvemos e incorporamos determinado conjunto de valores, regras,
crenças, juízos, etc., permeados pela cultura. Somos cientes de que o resultado
de um julgamento penal abrange apenas duas possibilidades: o veredito é culpado
ou inocente, não existindo meio termo. Incorporamos também, entre muitos
outros, os valores religiosos que atravessam nossa vivência, trazendo-nos o
dogma da culpabilidade através da admissão do "mea culpa", o
qual carrega um simbolismo tendencioso e, diria, até mesmo, pesado: "Por
minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa". Contudo, ao assumir nossa
limitação como seres errôneos e falhos, assumimos também uma postura condizente
com nossa condição humana.
Em detrimento da culpa, por que não
substituir esta pela consciência da responsabilidade que temos por nossos atos,
nossos caminhos, nossa vida? A responsabilidade nos institui a capacidade de um
novo e constante fazer e refazer. O sentimento de culpa é uma alternativa que
nos imputamos e dificilmente nos permite transcender a um nível produtivo sem
causar danos. Entretanto, estar ciente de que somos responsáveis nos direciona
para um diálogo possível e necessário entre a reflexão e nossas ações,
proporcionando-nos outras possibilidades. Responsabilidade é uma condição
inerentemente humana, e, assim como somos responsáveis por algo que pode não
ter tido o resultado pretendido ontem, também nos responsabilizamos pela
manutenção deste ou por outros diferentes e novos resultados hoje e amanhã. O
ponto essencial é: o que vamos fazer com isso?
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