As relações humanas na atualidade se estabelecem
para além do âmbito da pessoa física, apenas, evidenciando-se também dentro do
espaço virtual, trazendo uma nova possibilidade de interagir e atuar no mundo.
Contudo, não raro observamos de modo crescente a valorização das relações
virtuais em detrimento de quem está fisicamente próximo.
Em uma época
onde a tecnologia consolida-se como presente, necessária e "quase
imposta" no mundo dito civilizado, são inegáveis os benefícios e suporte
trazidos pelos aparatos eletrônicos sobre os quais nos debruçamos e somos
favorecidos na sociedade contemporânea. A era tecnológica permite infindáveis
confortos e faz parte da história e desenvolvimento do homem. A partir dela
também evoluímos em nossa maneira de comunicação, trazendo variadas
possibilidades de interação com nossos pares. Dos primordiais sinais de fumaça
e cartas, inventamos e desenvolvemos as mídias eletrônicas: telefone, rádio,
televisão, computador, celular (a união de ambos), os quais difundem
informação, notícia e entretenimento a nosso favor. Com o advento da Internet,
é possível a conexão de forma mais eficiente entre as pessoas e hoje podemos
nos comunicar via videoconferência com o outro lado do mundo em tempo real. Sem
dúvida a tecnologia facilitou e estreitou as relações humanas, tornando-as
possíveis em contextos anteriormente dificultados.
No entanto, chama a atenção a maneira pela qual ficamos
caprichosamente reféns de tais mídias e não valorizamos nossas relações
efetivas. Observamos em certas ocasiões como eventos sociais, reuniões de
amigos e família, algumas pessoas que, mesmo com todo referencial humano à sua
volta, tantas relações a explorar, preferem ficar "hipnotizadas" na
frente da TV a interagir com outras. Ok, todo mundo tem seu dia de ficar
quieto, calado em um canto, ou mesmo não querer interagir com quem não sente
vontade e não socializar-se, mas creio que algumas pessoas permitem-se ficar
alienadas neste contexto. Diria mais: manipuladas. Acho triste quando vejo
alguns restaurantes com aparelhos de tevês espalhadas pelo salão. Sentar-se à
mesa sempre foi para o homem um momento de prazer, não somente pela refeição em
si, mas levamos nossa celebração, alegria ou simplesmente um momento de
reunir-se com nossos entes, que, por si só, já pode ser um motivo para
festejar.
Atualmente uma cena
"tecnológica" é facilmente observada em reuniões sociais, mesas de
bares, restaurantes e afins. Na era onde as redes sociais eletrônicas
"bombam", pessoas, mesmo rodeadas por muitas outras, substituem suas
relações humanas próximas por contatos virtuais através de seus
celulares/computadores. É um tal de digita daqui e dali em uma atenção focada
unicamente no aparelho eletrônico, como se este fosse uma extensão do próprio
corpo. As pessoas interagem, riem, fazem caras e bocas para os aparelhos. Mas e
o calor do afeto de quem está ali do lado? E a possibilidade de estabelecer um
contato mais estreito e rico emocionalmente? Estaríamos nos camuflando em
um mundo virtual? Por que não trazer essas relações para o real, onde, de
fato, vivemos? Creio que esta corresponde à verdadeira demanda humana. Não
nego a utilidade e privilégio dos eletro/digitais e, sem categorizar entre
certo ou errado, penso que é uma nova forma de relacionar-se e, portanto,
podemos e devemos nos privilegiar dos mesmos, mas observo a necessidade de
haver equilíbrio.
A tecnologia existe
a nosso favor, portanto, para nosso usufruto. Contudo, talvez devêssemos olhar
mais para o lado, para quem está próximo de nós e não ficar preocupados se a
bateria do celular está acabando.