Sem dúvida um dos maiores desafios que nós, meros e
humildes seres umanos, enfrentamos na vida é lidar com as diferenças. A
convivência de contrários é uma das maiores dificuldades que atravessam nossa
existência. Conceber e aceitar coisas tão diferentes de nossa própria realidade
causa-nos ao menos estranhamento e, quando tomamos conhecimento de que existem
outros estilos de vida diferentes do nosso, acabamos por julgar, valorando como
bom ou ruim, certo ou errado, segundo nossa própria experiência. E nem me
refiro à não padronização ou bizarrice, mas às coisas simples da vida. No entanto,
o que pode ser simples ou bizarro para mim, pode não ser para você.
É
politicamente correto respeitar as diferenças, mas na prática, a teoria é BEM
outra. De maneira geral, formulamos juízo como certo o que nos é familiar, as
coisas que fazem parte de nosso cotidiano e avaliamos outras realidades de
maneira negativa, simplesmente por serem diferentes. Entretanto, as pessoas
pensam, sentem e agem de formas diferentes. Achamos, no mínimo, curioso e
desenvolvemos uma certa resistência quando temos contato com interesses
divergentes dos próprios, mas a vida é permeada por tais diferenças sobre as
quais nos exige discernimento e concepção. Outras culturas, novos tipos de
relacionamentos que não se enquadram aos padronizados, uma visão política da
qual não partilhamos, o gosto por um estilo musical diferente, uma opção sexual
diferente da nossa, outros times de futebol, outras etnias, outras religiões,
etc. Talvez o critério religioso seja um dos mais difíceis com o qual temos de
lidar, afinal, não raro, observamos extrema intolerância a respeito, cada um
julgando sua religião como melhor e "a certa". Tal divergência causa
guerras há milênios e parece que não conseguimos evoluir muito desde então. A
questão racial também se incorpora aqui, e algumas pessoas ainda consideram-se
melhor ou pior por ter determinada cor de pele ou ser de uma certa região
geográfica.
Mesmo quando nos auto
proclamamos como "mente aberta", sem dúvida carregamos os próprios
paradigmas e (pré)conceitos. Não é nada fácil lidar com uma opinião
divergente. As diferenças. Ah! Como pode ser difícil conviver com
elas... Temos como base nossas próprias verdades, as quais muitas vezes
julgamos como absolutas. Talvez, apenas talvez, sejamos cingidos por uma certa
dose de narcisismo, fazendo-nos crer que, o que nos serve, o que se inclui ao
nosso contexto também é extensível às outras pessoas. E, possivelmente, essa
mesma visão narcísica nos impute certa limitação e engessamento, deixando-nos
ingenuamente na expectativa de que o outro absorva o mundo da mesma forma que
nós. Entretanto, cada pessoa no decorrer da vida desenvolve sua história
pessoal, construindo sua realidade segundo a própria vivência. Eu sou diferente
de você, que é diferente de fulano, que é diferente de sicrano, que é diferente
de beltrano...
Ao
ponderar sobre as diferenças, devemos considerar o relativismo, afinal, cada
qual cria a própria verdade, sua maneira de ser e se colocar no mundo,
determinando a construção do sentido próprio para a vida. E, principalmente,
racionalizarmos de que não existe uma verdade absoluta. Sua verdade pode não
ser a minha, e a minha, a sua. É relativo.
É
necessário certo exercício para conviver minimamente bem com as diferenças, e
não me refiro a aceitá-las, talvez isso seja utópico, mas em respeitá-las, sim,
não tem jeito. A conscientização de que as diferenças fazem parte da vida e
ninguém é melhor ou pior por ser diferente emerge para uma melhor convivência.
Contudo, pode ser interessante o desprendimento das próprias opiniões, afinal,
não deixa de somar ao próprio conhecimento lidar com o diferente. Outros
olhares, outras ideias e outras opiniões podem acrescentar e ampliar conteúdos.
Compreender o outro
talvez seja exigir muito, entretanto, respeitar este em sua maneira pessoal de
ser é o melhor caminho para conviver com o diferente. Afinal, mesmo sendo uma
grande dificuldade em nossas relações interpessoais e de mundo, as diferenças
nos adornam e nos tornam interessantes em nossa condição mais peculiar: ser humano,
único e ímpar.