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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Interpretações da vida


A maneira como nos relacionamos com as pessoas, a vida e o mundo se fundamenta e vai de encontro com nossa própria autopercepção e o modo como nos sentimos em relação a nós mesmos. A interpretação que fazemos, atribuição de significado e sentido que damos direcionam-se para um caminho o qual definimos, permeados por nossos valores, sentimentos, opiniões, crenças e afins e nem sempre entra em confluência com a realidade objetiva, e sim acordam com o modo como imprimimos a própria percepção. Nesse sentido, é necessário atentarmos sobre a interpretação dos fatos e situações que acontecem conosco. Será que tudo tem mesmo o caráter que atribuímos, o peso que damos, a tonalidade que imputamos? Por vezes ocorrem circunstâncias em que conferimos uma conotação muito peculiar, mas distante do real, ainda que toda interpretação seja permeada por uma carga de valores muito específicos e pessoais. Será mesmo que existe tal realidade objetiva, visto que o "real" é permeado de interpretações subjetivas e perspectivas diversas? Quanto, de fato, nos aproximaríamos de uma situação em si, isenta de juízos?  

Estados emocionais negativos influenciam da mesma maneira em nossa percepção da vida e do mundo. Algumas pessoas possuem uma dinâmica de funcionamento em que se colocam constantemente na defensiva, se protegendo e revidando, parecendo ser constantemente atacadas. Há ainda os que se limitam e escondem, pois acham que são incapazes de enfrentar determinadas situações, mas absorvem tudo da mesma forma disfuncional. Interpretam de forma negativa como se fossem direcionadas para elas, seja uma atitude ou crítica aleatórias. O mundo pode se apresentar a elas como um ambiente ameaçador, no qual estão constantemente em conflito ou se defendendo de algo. Toda interpretação que fazemos dos fatos é nossa, de nossa inteira e real competência e acordam com nossa própria percepção. Contudo, vale ter o olhar crítico tanto para as evidências como para as interpretações e sentimentos que nos atravessam. Será que o modo como percebemos as coisas e lhes atribuímos significado se fundamenta, tem sentido real? Quando determinada situação, sentimento e emoção relacionados se repetem constantemente em nossa vida é necessário questionar-se a respeito. Se atribuímos um caráter ameaçador ou conflituoso às muitas relações as quais estabelecemos é fundamental o reconhecimento de nossa participação para compreender o próprio funcionamento. A capacidade de se avaliar e olhar para as próprias questões permite uma maior autopercepção. Quando repetidamente situações semelhantes nos atravessam é necessário atentar para elas. 

O pensamento básico para o bem viver é a consciência de que nada é pessoal e não absorver as coisas como se nos fossem direcionadas. Saber que, o que é do outro, é literalmente DO OUTRO nos permite a liberdade e desapego necessários, assim como a responsabilidade em assumirmos o que é nosso e a interpretação que construímos da vida.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O novo ano de sempre

  Passadas as primeiras semanas de janeiro de um novo ano que se inicia, há a contínua e vagarosa volta à realidade por parte de todos. As festas de fim de ano fazem as pessoas ficarem meio "fora do ar", em uma espécie de torpor. Há certa euforia e exaltação coletiva, com inúmeras confraternizações e reuniões, o que evidencia nossa necessidade de encerramento de um ciclo. Parece que uma onda de esperança toma conta e tudo de ruim é deixado para trás com o ano que se foi. Realmente necessitamos fazer esse fechamento, encerrar tal ciclo para dar início a outro, com maior gás.

  O tempo, assim como a virada do ano, é um conceito abstrato e sua contagem foi definida por nós para melhor nos organizarmos e adaptarmos. Entretanto, o ano muda e os problemas, as dívidas e frustrações permanecem. Mas ficam também as alegrias, a esperança e, principalmente, a capacidade de cada pessoa superar. Fazemos rituais, pensamento positivo, quase como um pensamento mágico:  usa-se roupa branca, amarela ou da cor que a intenção prevalecer; comer lentilha; uva; pular 7 ondas; tomar banho de mar, e tantos outros rituais quanto a imaginação permitir. Nada contra, a fé, e não me refiro somente à religiosa, é indiscutivelmente necessária, mas nada disso adianta se não nos propusermos estar em movimento. Não é uma virada de ano que definirá sua vida, e sim suas atitudes. Assim, mais do que um novo ano que se inicia, a esperança em cada recomeço é importante em qualquer tempo, inclusive, no seu. E talvez essa seja uma das principais e maiores características/trunfos do ser humano: a capacidade de recomeçar, de adaptação e readaptação, em um contínuo movimento, um constante vir a ser. Como atestou Darwin. "não vencerão os mais fortes ou os mais inteligentes, e sim os que melhor se adaptarem". A maleabilidade, flexibilidade e jogo de cintura tão necessários para a saúde, física e mental, o movimento que não nos cristaliza impedindo de evoluir, seja lá em qual sentido for. E temos ainda mais de 350 dias à frente para fazê-lo, até que estejamos, mais um vez, prontos para recomeçar.