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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O escravagismo das mídias eletro-digitais

   
      As relações humanas na atualidade se estabelecem para além do âmbito da pessoa física, apenas, evidenciando-se também dentro do espaço virtual, trazendo uma nova possibilidade de interagir e atuar no mundo. Contudo, não raro observamos de modo crescente a valorização das relações virtuais em detrimento de quem está fisicamente próximo. 

     Em uma época onde a tecnologia consolida-se como presente, necessária e "quase imposta" no mundo dito civilizado, são inegáveis os benefícios e suporte trazidos pelos aparatos eletrônicos sobre os quais nos debruçamos e somos favorecidos na sociedade contemporânea. A era tecnológica permite infindáveis confortos e faz parte da história e desenvolvimento do homem. A partir dela também evoluímos em nossa maneira de comunicação, trazendo variadas possibilidades de interação com nossos pares. Dos primordiais sinais de fumaça e cartas, inventamos e desenvolvemos as mídias eletrônicas: telefone, rádio, televisão, computador, celular (a união de ambos), os quais difundem informação, notícia e entretenimento a nosso favor. Com o advento da Internet, é possível a conexão de forma mais eficiente entre as pessoas e hoje podemos nos comunicar via videoconferência com o outro lado do mundo em tempo real. Sem dúvida a tecnologia facilitou e estreitou as relações humanas, tornando-as possíveis em contextos anteriormente dificultados.  


     No entanto, chama a atenção a maneira pela qual ficamos caprichosamente reféns de tais mídias e não valorizamos nossas relações efetivas. Observamos em certas ocasiões como eventos sociais, reuniões de amigos e família, algumas pessoas que, mesmo com todo referencial humano à sua volta, tantas relações a explorar, preferem ficar "hipnotizadas" na frente da TV a interagir com outras. Ok, todo mundo tem seu dia de ficar quieto, calado em um canto, ou mesmo não querer interagir com quem não sente vontade e não socializar-se, mas creio que algumas pessoas permitem-se ficar alienadas neste contexto. Diria mais: manipuladas. Acho triste quando vejo alguns restaurantes com aparelhos de tevês espalhadas pelo salão. Sentar-se à mesa sempre foi para o homem um momento de prazer, não somente pela refeição em si, mas levamos nossa celebração, alegria ou simplesmente um momento de reunir-se com nossos entes, que, por si só, já pode ser um motivo para festejar. 


    Atualmente uma cena "tecnológica" é facilmente observada em reuniões sociais, mesas de bares, restaurantes e afins. Na era onde as redes sociais eletrônicas "bombam", pessoas, mesmo rodeadas por muitas outras, substituem suas relações humanas próximas por contatos virtuais através de seus celulares/computadores. É um tal de digita daqui e dali em uma atenção focada unicamente no aparelho eletrônico, como se este fosse uma extensão do próprio corpo. As pessoas interagem, riem, fazem caras e bocas para os aparelhos. Mas e o calor do afeto de quem está ali do lado? E a possibilidade de estabelecer um contato mais estreito e rico emocionalmente? Estaríamos nos camuflando em um mundo virtual?  Por que não trazer essas relações para o real, onde, de fato, vivemos? Creio que esta corresponde à verdadeira demanda humana. Não nego a utilidade e privilégio dos eletro/digitais e, sem categorizar entre certo ou errado, penso que é uma nova forma de relacionar-se e, portanto, podemos e devemos nos privilegiar dos mesmos, mas observo a necessidade de haver equilíbrio.


    A tecnologia existe a nosso favor, portanto, para nosso usufruto. Contudo, talvez devêssemos olhar mais para o lado, para quem está próximo de nós e não ficar preocupados se a bateria do celular está acabando.

16 comentários:

  1. Essa era tecnológica, realmente, não vem fazendo bem a ninguém!!!
    Pelo contrário... nossas crianças e adolescentes não sabem o q é brincar nas ruas, ter contato físico com outras pessoas, não têm diálogo com seus colegas... aliás, eles têm diálogo sim... só sabem falar de jogos de computador, de personagens inventados, etc... enfim...
    Acho q o pior de tudo, é q estas crianças e adolescentes de hj em dia, vêm seguindo os exemplos dos pais, q tbm vivem conectados a todo momento.
    Eu sou uma dessas!!!!
    Algo precisa ser feito para mudar isso... na verdade, só precisamos querer mudar!!!

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    1. Carla, observo que devemos ter ainda mais cuidado com nossas crianças e adolescentes pois eles crescem com essa realidade, são integrados nesse contexto. O jogo online é bastante sedutor nesse sentido, pois é possível ouvir a voz do outro jogador, conversar. Há interação, estabelecimento de contato. Penso que não há nada de errado nisso, entretanto não deve ser a única forma de fazê-lo. Ainda ontem ouvi uma mãe dizendo que seu filho desce uma hora todos os dias para o playground do condomínio onde moram e fica o resto do dia no computador. Acho que ilustra bem esta situação: a necessidade de haver equilíbrio. Sem dúvida a tecnologia é muito bem-vinda, faz parte da nossa história e está aí a nosso benefício, portanto, vamos usá-la. É uma característica da época atual, na qual estamos inseridos e nos proporciona inúmeros benefícios.

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  2. Tema totalmente pertinente, Lu. Acredito que as mídias sociais vêm de encontro à feroz necessidade do ser humano de sentir-se inserido no contexto da galera, à busca pela aceitação. Na minha opinião, a maioria dos brasileiros extrapolam no uso dessas ferramentas porque são naturalmente vaidosos e porque valorizam mais o ter do que o ser. Há também a visão dos personagens: todos são lindos, corretos e legais, as melhores versões de si mesmos. Mas sem dúvida, é inegável a importância dessas ferramentas, que aproximam distâncias, permitem a troca de pontos de vista, podem alegrar, informar rapidamente, somar forças, etc. Eu, particularmente, acho fascinante poder ter contato permanente com minha família distante, saber que vão bem pessoas queridas, amigos já não tão distantes, mas procuro não fazer disso uma necessidade que me consuma e que tenha maior valor do que a presença humana.

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    1. Concordo com você, Roberta. Percebo a atitude de algumas pessoas frente a tais mídias como uma necessidade de promoção pessoal. Questiono quando observo essa postura em relação à maneira pela qual se expõem no mundo virtual e por que motivo precisam explanar publicamente coisas tão íntimas, pessoais. Por que necessitam dessa exposição? Tal fator também me remete diretamente à necessidade de aceitação e creio que esse comportamento se fundamenta principalmente nos valores instituídos (e distorcidos) pela sociedade. Pretendo desenvolver esse tema em uma postagem futura.

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  3. Lu, todas as palavras vindas de vc são merecedoras dos meus aplausos...
    Admiro mt sua capacidade de falar de tudo com sabedoria e razão, nos proporcionando momentos de mta reflexão...
    Sabia q, a todo momento q pego meu celular para responder uma msg, lembro do seu texto!? rss
    E, lembrando de suas palavras, já deixei de responder algumas mensagens para dar atenção a quem estava ao meu lado... rss
    Sem dúvida alguma, as palavras do seu blog já começaram a surtir algum efeito... rss

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    1. O olhar crítico sobre as inferências que nos atravessam e a assimilação das mesmas demonstra a capacidade de promover auto-reflexão, o que não é uma coisa simples de fazer, pelo contrário, pode ser bem complexo, pois envolve nossos próprios paradigmas. Também não é fácil a mudança de postura, mas é possível, havendo a ação inicial necessária para fazê-lo. Penso que sua análise e compreensão são méritos absolutamente seus, pois teve o cuidado de refletir a respeito. :)

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  4. Deixaram a alma humana se tornar cibernética.

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    1. Analogia perfeita, Tiago. Cabe a reflexão se nos condicionaremos a essa automatização.

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  5. Realmente um grande desafio que se descortina dia-a-dia, mas penso que o fato de estar ciente deste desafio já é uma vitória, não deixar os "eletrônicos " nos aprisionar! O fato de sabermos que não é legal dividir atenção de um amigo presente com um virtual,manter tel. ligado em reuniões , encontros com amigos...para mim já é um movimento de mudança. E até os jovens já tem essa consciência também, se sentem preterido ,penso que com o tempo, após a exploração de possibilidades mil, estaremos menos apaixonados por essa mídia eletrônica sugadora de nós, de nossos amigos, filhos, família...

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    1. Também faço votos de que as pessoas se conscientizem abarcando essa mudança, Lucivania. Mas creio que é necessário um movimento da sociedade para haver essa conscientização. Observo as pessoas integradas e absortas intensamente nesse contexto e compreendo que é imprescindível o desdobramento destas questões. Você pontuou algumas situações comuns e bem interessantes que exprimem a falta de cuidado que temos para com o outro. Quantas vezes nos sentimos preteridos diante deste contexto? Ou mesmo deixamos de ter o cuidado de um olhar mais abrangente para quem está próximo de nós e muitas vezes olhamos, mas não enxergamos, não percebemos?

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  6. Oi, Luciana.
    Muito oportuna a postagem sobre as mídias eletrônicas. Realmente nós estamos vivenciando uma era de tecnologia, comunicação e informação que são muito salutares, mas que devem ser utilizadas com cautela. Cria-se um vínculo entre ser humano e objeto gerando uma dependência desses meios de comunicação e entretenimento, além de configurar uma forma de isolamento prejudicial porque deixamos, por vezes, nossos afetos de lado em prol de nossos interesses imediatos prontamente atendidos pelo "enter". Esquecemos que o fim somos nós seres humanos e que os objetos são meios que auxiliam o nosso progresso. E, podemos perceber a influência tão intensa qeu o comportamento torna-se homogêneo entre crianças e adultos,estes muitas vezes bastante capacitados e maduros, tendo todos a mesma reação de isolamento. Pensamos que nós sujeitamos a máquina, nossa "escrava de informações e prazer", mas como vc disse, nós acabamos por nos tornarmos escravos das mídias eletrônicas. A solução é a busca do equilíbrio! Obrigada por poder participar e parabéns pela relfexão!

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    1. Gabriella, sua colocação sintetiza de forma clara outra vertente passível de observação e que se interliga a este contexto contemporâneo o qual vivenciamos, o individualismo. Penso em discorrer a respeito em outra postagem. Eu que agradeço sua participação!

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  7. Oi Lu, o assunto também me assombra e me faz refletir com frequência. Valorizar a presença de quem está próximo sempre foi muito masi importante para mim do que ficar o tempo todo atenta "ao mundo inteiro"...
    Sugestão de video neste assunto:

    https://www.youtube.com/watch?v=Cd5tll7F_4M

    Beijoks

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  8. Carla, esse vídeo ilustra muito bem e contextualiza tudo isso! Adorei!
    O mundo pode ser mais interessante, belo e acolhedor quando olhamos ao redor e percebemos as coisas simples que fazem parte da vida e muitas vezes não valorizamos.

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  9. Lu gostei muito de sua explanação e corrobora o fato de que tenho alguns amigos que estão sendo deixados de lado por agirem do seguinte modo:Quando na balada ou numa saída com outros amigos,permanecem mais tempo ao celular,em suas redes sociais virtuais,do que desfrutando do convívio "ao vivo" dos amigos....Como citou isso já começa na infância,com os presentinhos tecnológicos e se estende a vida adulta.Tem seu lado totalmente favorável,não há dúvida quando nos referimos a tecnologia,mas há também que se lembrar que fomos nós que construímos todo esse aparato ,para nos auxiliar e não para nos dominar.Beijos de sua amiga Isabel

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  10. É verdade, Izabel. E cenas como essa se apresentam de forma trivial em nosso cotidiano e, paradoxalmente, sem que as pessoas percebam. Há menos de uma semana em um barzinho, um jovem casal sentou-se à mesa na frente da minha e cada qual ficou mexendo individualmente no próprio celular. Umas duas vezes um apontou alguma coisa para o outro no aparelho e trocaram monossílabas, apenas, continuando com o foco no mesmo. Quando o pedido veio, comeram e saíram pouco depois. Como você pontuou, somos nós quem devemos dominar toda essa dinâmica e não permitir que o contrário se estabeleça. Beijo.

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