Em tempos em que o amor é cantado em
verso, prosa e comerciais de tevê, quem não está em um relacionamento nessa
época acaba por sentir-se destoado, descontextualizado. No dia dos namorados
celebramos o amor, aquela época especial onde o romance fica em alta, a troca
de afeto, carícias e atenção toma uma conotação especial. Ah... o amor! Amar
pode ser muito bom, ter alguém para aconchegar-se, participar nossa vivência,
nossas pequenas coisas. Partilhar...
Alma gêmea,
outra metade da laranja, tampa da panela, cara metade e tantas outras
definições quanto nossa imaginação permitir. A problemática começa justamente
quando atribuímos ao outro a expectativa da completude que é nossa, delegando a
este a responsabilidade pela própria felicidade. No entanto, felicidade é um
bem intransferível e inalienável, isentando qualquer pessoa, a não ser cada um
de nós, por tal responsabilidade. Ao outro cabe apenas partilhar dela.
"Apenas". Talvez seja cômodo colocar na conta de outra pessoa
realizações e responsabilidades que nos competem, e, somente a nós. Da
felicidade às possibilidades, as quais muitas vezes deixamos transcorrer à
nossa frente para não sairmos de nossa zona de conforto.
Nós não somos uma
metade à espera de seu equivalente, somos seres inteiros, íntegros. Se em algum
momento de nossa vida buscamos completude, essa apenas depende de
nós. Quando sentimos que nos falta algo, a necessidade é nossa. Encontrar
alguém para nos relacionarmos não preenche vazio algum, pois este é intrínseco
a cada um, de nossa própria responsabilidade e competência. Relações de
co-dependência não se desenvolvem de forma plena e saudável, mas se apresentam
de modo patológico, com cobranças extremas e, muitas vezes, infundadas.
Atribuir a própria realização ao outro pode ser frustrante, além de alienante,
afinal, ele nunca terá tal capacidade.
Relacionamentos se estabelecem, principalmente, através da troca de afetos, da
reciprocidade de sentimentos, onde cada lado necessita ceder em determinado
momento. Relacionamentos não nos completam, mas complementam. Somos
responsáveis pelas relações que estabelecemos, assim como pela própria
felicidade.
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